Era noite de rock´n roll. Dirigi para Indaiatuba chegando no Vinil Music Pub por volta das 22 horas. Minha expectativa para o show era grande, pois desde fevereiro não via uma apresentação de Marcelo Nova ao lado de Drake, somente os dois no palco.
Logo que estacionei o carro notei que a casa noturna ficava na esquina de um cruzamento. Era natural me remeter à encruzilhada, Crossroads, baby. Mas não era Robert Johnson quem estava ali de joelhos. Era Marcelo Nova no trono que lhe pertence. Drake Nova à direita do pai.
“Coração Satânico” abria a noite e deixava claro que o pacto não podia ser quebrado. “O diabo está solto passeando em seu Chevrolet, de terno e gravata ninguém desconfia quem é”.
Sendo assim, ele foi assumindo as mais diversas formas. “Hoje” e até um certo “Carpinteiro do Universo”, foram faces que trouxe para continuar o show. Marceleza afia seu novo tridente e segue contemplando tudo do trono.
O diabo é pai do rock, e vigoroso como é, possui muitos filhos, e com várias mulheres, muitos esquecem que eles possuem diversas caras. Mas ainda assim são seus filhos. E continua sendo rock. A cara mais conhecida da sua linhagem tem o formato clássico de guitarra, baixo e bateria. Mas ele tem até filho indiano e egípcio, como o exame de DNA em George Harrison e Robert Plant comprovaram. E tem também esse filho, sentado, violão no colo, marcando o ritmo com os pés. Mesmo não sendo o mais lembrado, como é fantástico esse formato. São inúmeras as imagens que nos traz, desde os pioneiros do delta blues, passando por mestres do folk como Woody Guthrie, estrelas como Crosby, Stills, Nash & Young, incluindo Bob Dylan, e até as intervenções de Jimmy Page no Led. Está entendendo do que estou falando? Marcelo Nova promete um passeio por vários desses estilos no seu próximo álbum de estúdio, mostrando quantas cores possui sua palheta. No seu repertório não existe mais do mesmo.
Drake desfilava riffs, ruídos, slide, e muitos cenários de sua guitarra e dos seus pedais vintage. A maneira que ele conduz o wah wah me lembra Mick Box do Uriah Heep, considerado por muitos como o rei desse efeito. Inclusive já perguntei se Drake conhecia a maneira que ele tocava, e me respondeu que sabia pouco sobre Mick. Foi então que descobri que eles não se assemelham por influência, eles se assemelham por competência.
A emocional Robocop veio na sequência. Marceleza lembrou que se inspirou no caso da morte de Adriana Caringi para escrevê-la, assassinada por um atirador de elite na tentativa de resgatá-la do sequestro. Mais um exemplo do trabalho atemporal que ele desenvolve. Sua matéria prima é não o I-Pad, e sim o ser humano e suas complexidades, e assim ele segue vivo e atual, sempre se movendo e ganhando novas versões. Por um segundo vi uma penumbra pelo ar, ficou denso, difícil de respirar. O diabo e seus joguinhos de ilusão...
É, meu amigo, mas o diabo não faz filho à toa, não. Nem Deus, e sua cria divertiu à todos em Ela Me Trocou Por Jesus. Muito menos Marcelo Nova, e Drake brilhou num grande solo em Quando Eu Morri. Por falar nisso, se engana quem pensa que a tradicional performance nessa canção foi prejudicada por Marceleza estar sentado e com o violão, afinal não é necessário que ele esteja em pé para ouvirmos o estrondo dos seus passos. Não houve sinal da cruz que protegesse de ser atingido. E assim foi feito, o impacto dessa canção se fez presente, e todos aplaudiram de pé.
Com tantos pecadores e escolhidos presentes, Marcelo avisou que o único pastor que realmente merece respeito é o Pastor João. E com a canção da parceria com Raul, encerrou a noite.
Fui deixando a encruzilhada pra trás indo pra casa, e notei no retrovisor um Chevrolet me seguindo. O diabo queria me pregar outra peça antes da noite acabar.
Set list:
Coração Satânico
Hoje
Carpinteiro do Universo
Papel de Bandido
Faça a Coisa Certa
Robocop
Quando Eu Morri
Eu Vi O Futuro
Ela Me Trocou Por Jesus
Rock n' Roll
Simca Chambord
Pastor João e a Igreja Invisível
Fonte: whiplash.net
Por Alexandre Campos Capitão
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