André T |
Obs: Matéria Originalmente publicada no site "Guia de Produção de Rock"
ANDRÉ TAVARES - Produtor musical, multi-instrumentista, engenheiro de gravação e mixagem e formado em Comunicação pelo Elizabethtown College, em Elizabethtown/PA, nos EUA. Produziu discos de Retrofoguetes, Cascadura, Sua Mãe, Rebeca Matta (Prêmio APCA 1999), Enio e a Maloca, Nancy Viegas, Luiz Caldas, Carla Visi entre muitos outros. Como músico, trabalhou com Carlinhos Brown, Sidney Magal entre outros. Neste momento, além dos discos se concentra em trilhas de cinema.
O que significa produção musical? Esse termo pode significar coisas diferentes, nos levando a mais perguntas do que tínhamos antes.
O produtor musical é o responsável por fazer o disco acontecer. É a pessoa que servirá como elo entre o artista, os músicos, a técnica, o estúdio e a gravadora. O produtor fará com que o artista sinta que o resultado final do seu trabalho (o disco) o representa, que a gravadora (que muitas vezes está bancando o projeto) e o artista tenham fé que esse disco poderá ter uma resposta comercial, que o orçamento não vai estourar absurdamente (mas claro que vai estourar!) e que o disco ficará pronto no prazo (ou quase…). Muitas vezes o produtor musical acumula funções, como engenheiro de gravação e/ou mixagem ou ainda como músico ou compositor.
Alguns produtores basicamente supervisionam as sessões de gravação, estando no estúdio (ou não, no caso de alguns produtores famosos americanos), abrindo o estúdio para os músicos registrarem suas ideias. De vez em quando eles podem fazer uma intervenção, como pedir para algo ser refeito se não estiver satisfatório.
Outros produtores estão do outro lado do espectro, selecionando repertório ou compondo, tocando os instrumentos (muitas vezes todos eles), cuidando da parte técnica etc. Esses produtores são talvez mais importantes do que o próprio artista nesses casos, como os discos de algumas divas da dance-music.
Existem produtores que trabalham junto ao artista, em momentos como mais um músico da banda, em outros como alguém que vai apenas dar o parecer final e em alguns como a pessoa que vai ser o psicólogo das sessões de gravação. Esses produtores deverão ser inteligentes o suficiente para saber que chapéu devem usar no momento adequado. Tomo como exemplo George Martin, na minha opinião o maior produtor da história da música popular.
No final das contas, qualquer que seja o estilo do produtor, este deve tirar o melhor do artista, e em alguns casos tirar algo que este nem pensava que era capaz.
Nenhuma destas três facetas de produtores está certa ou errada; são apenas estilos diferentes de produção que funcionam em situações distintas.
Alguns artistas se auto-produzem. Uns o fazem bem, porém em muitos outros casos isso significa apenas vaidade ou tentativa de economia, pois eles não tem visão o suficiente para objetivamente enxergar o trabalho. Muitas vezes o artista está tão ligado emocionalmente às músicas que deixa de ver vários problemas.
Existem problemas que ocorrem também quando a combinação artista-produtor não é adequada. Alguns produtores podem não perceber bem o verdadeiro potencial do artista, e empurrá-lo para um lado equivocado. Infelizmente é comum ver artistas lançando trabalhos que estão muito aquém do potencial deles, ou ainda abraçando um caminho que no final das contas não os representa. Erro do produtor, que pode não ter visto esse caminho equivocado que o artista queria tomar, ou até mesmo ter apresentado a ideia!
O fato é que ao ouvinte chega apenas o resultado final do trabalho. Não interessa se o orçamento do disco foi suficiente, se houve tempo hábil para finalizar satisfatóriamente, se as relações pessoais entre a equipe eram as melhores possíveis ou se o conceito do disco foi realmente o adequado. Como costumo a dizer para as pessoas que trabalham comigo, não podemos pôr um adesivo na capa do disco pedindo desculpas porque o cantor estava resfriado e não conseguiu cantar bem a terceira música, e não houve tempo nem orçamento para refazer…
É muito importante a escolha certa do produtor, pois este vai auxiliar o artista com sua experiência a guiar o trabalho, e será a pessoa de fora que objetivamente indicará os acertos e equívocos. No caso do trabalho independente, onde os orçamentos são reduzidos, acredito que a importância de um bom produtor se torna maior ainda, pois não há espaço para erro na maior parte das vezes.
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