quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Hessel: Entrevista exclusiva com Zé Felipe guitarrista da banda

Todas as Fotos por: Riso Cruz
A Hessel faz parte da nova safra de bandas da cena do rock instrumental baiano. O power trio já participou de duas edições do Festival Big Bands, tocou em Vitória da Conquista num evento organizado pela Suíça Bahiana (parte da rede Fora do Eixo) e teve suas músicas lançadas por dois selos locais, a Torto Fono Gramas e a Brechó Discos. Zé Felipe, guitarrista da Hessel, respondeu as nossas perguntas.


1. Como foi o início da banda?

Zé Felipe: Mais menos uns dez anos atrás eu comecei a testar afinações alternativas, e no processo inventei a afinação de guitarra que eu uso na Hessel. Gravei quatro músicas que compus nessa afinação numa fita K7, usando uma mesinha de 4 canais da Tascam. No começo de 2010 pedi pra um amigo meu digitalizar a fita, fazendo wavs de cada um dos canais. Fiz loops dos riffs das músicas com o Soundforge, e com um sequenciador reestruturei elas e adicionei arranjos de baixo e bateria. Depois que fiz essas versões “demo” chamei Mario Baqueiro (baixo) e Lucas Furtado (bateria) para completar a Hessel. Eles já tinham tocado comigo numa banda de rock industrial, a MK Ultra.

2. Qual é a história por trás do nome da banda?

Zé Felipe: Estávamos fazendo um brainstorm sobre nomes de banda e começamos a falar dos filmes que gostamos. Clube da Luta logo logo surgiu na conversa. Falávamos daquela cena onde Tyler Durden (Brad Pitt) coloca uma arma na cabeça de “Raymond K. Hessel” (um imigrante asiático com um nome alemão, obviamente falso), um universitário que desiste estudar veterinária e vira atendente numa loja de conveniência por pura preguiça.  Tyler força Raymond a tomar uma atitude na vida; ou ele volta a estudar ou ele ia partir dessa pra uma melhor. Ele deixa Raymond ir embora e diz: “Amanhã será o dia mais bonito da vida de Raymond K. Hessel. Seu café da manhã terá um gosto melhor do que qualquer outra refeição que você e eu jamais tivemos.” De noite Raymond estava à beira da morte; de manhã, ele tinha renascido. Essa ideia de “E agora, o que você vai fazer pro resto de sua vida?” é a razão atrás do nome da banda. 

3. Por que fazer rock nesse formato, instrumental?

Zé Felipe: Quatro anos atrás eu nunca teria imaginado que estaria, hoje, tocando rock instrumental. Foi no final de 2009 que eu descobri a rica cena de rock instrumental do Brasil. Apesar do estilo existir desde o final dos anos 1950, foi a partir da década passada o Brasil teve um boom de grupos nesse subgênero. Temos bandas notáveis: Macaco Bong, Elma, Vendo 147, Camarones Orquestra Guitarrística, Retrofoguetes e Burro Morto, entre tantas outras. Sinto-me feliz de participar desse cenário que não para de crescer. 

4. Quais são as influências da banda?

Zé Felipe: Tool e King Crimson são unanimidades. Fora eles o Nine Inch Nails, Led Zeppelin, Radiohead, The Police, U2, Sex Pistols, Bob Marley & the Wailers, Red Hot Chili Peppers, Björk… The Jimi Hendrix Experience... Essas são as básicas, mas a lista se estende bem além dessas.

5. Todos os integrantes da Hessel já tocaram em bandas de metal. Lucas Furtado foi baterista da Pandora, Mario Baqueiro baixista da VHV (Virtual Human Virus) e você tocou na Carnified, Veuliah e Malefactor. Essa influência do metal underground ainda existe no som de vocês?

Zé Felipe: Com certeza. As nossas raízes estão no underground. Além do metal, crescemos ouvindo punk e industrial. Já tivemos, inclusive, feedback positivo de músicos que participam dessas cenas, pessoas que provavelmente nunca tinham parado pra escutar uma banda de rock instrumental com atenção.

6. Cite algumas bandas de metal que você tem ouvido recentemente.



Zé Felipe: A primeira que me vem à cabeça é o Animals as Leaders. Tosin Abasi é, pra mim, o Steve Vai do século XXI. A segunda é o Blotted Science, que foi uma indicação de Eduardo César, guitarrista da Tentrio. Sempre achei que música erudita do século XX deveria ser explorada pelos músicos de metal e o guitarrista da banda, Ron Jarzombek, faz bons riffs usando o sistema de 12 tons de Schoenberg. A terceira é um grupo norueguês, The Shining. São jazzistas que resolveram tocar heavy metal. O resultado é bem interessante... Pesado e ao mesmo tempo cerebral. Fora essas bandas eu voltei a ouvir o som do Disharmonic Orchestra, um death metal pra lá de esquisito.

7. Fale um pouco sobre o primeiro EP de vocês.

Zé Felipe: Gravamos ele em Outubro de 2010 no Estúdio Revolusom. O dono do estúdio é Marcos Franco, um velho amigo que tocou comigo na Carnified e E-Spiral. Nessa época Lucas foi botar alguns assuntos pessoais em ordem e no lugar dele estava Louis, outro velho conhecido; ele tocou na Drearylands e na Mystifier, entre outros. O EP foi lançado um ano depois pela Torto Fono Gramas, selo de Sergio Franco (ex-Automata, Odd Humans). É o mesmo selo da Bestiário, Minus Blindness, Yun-Fat e Cobalto.

8. Show de lançamento do EP foi na noite instrumental do Festival Big Bands, não?

Zé Felipe: Sim... Tocaram no Póstudo as quatro bandas da nova geração de rock instrumental baiano: a gente, a Tentrio, a Peito de Planta e a Retro_Visor. Foi o primeiro show de estreia da Hessel; estávamos meio nervosos, mas acho que o resultado foi positivo no fim das contas. A casa estava cheia... Foi bom isso.

9. Conte sobre a história do split single com a Tentrio.

Zé Felipe: Sergio Lapa, dono do Estúdio 501, ofereceu uma gravação de graça pra gente. Na mesma época – coincidência – Eduardo veio com a ideia da Tentrio e da Hessel fazerem um split single, baseada no split que o Nirvana e o Jesus Lizard lançaram lá pelos idos de 1993. Achei excelente essa ideia. Não é todo dia que vemos bandas de SSA lançando um split.

10. Teve um show de lançamento pro split também?

Zé Felipe: Sim. Foi com a Tentrio e a Camarones Orquestra Guitarrística no Visca Sabor & Arte, no Rio Vermelho.

11. Existe uma cena de rock instrumental em Salvador?

Zé Felipe: Boa pergunta. Uma “cena” pra mim é quando um número razoável de bandas surge num mesmo período fazendo um som no mesmo estilo e trabalham juntas: agendam shows, lançam de discos, fazem contato com revistas, jornais e zines, etc. O que é interessante sobre o rock instrumental de Salvador é que as bandas surgiram independente umas das outras, com propostas musicais bem distintas... Mas existe a vontade de trabalharmos juntos, de fortalecer o rock instrumental baiano. Caso exista de fato uma “cena” ela começou faz pouco tempo.

12. Mais alguma coisa que você queira dizer pros nossos leitores?

Zé Felipe: Queria agradecer em primeiro lugar ao Bahia Rock Machine, por ter cedido esse espaço pra a Hessel. No mais, apoiem a música autoral da sua cidade!


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