Release Álbum:
O ano nem sequer chegou à metade, mas já tenho o meu candidato a melhor lançamento de rock de 2010, por essas plagas. Levo em conta o marasmo que tem dominado a cena soteropolitana, onde as bandas que ocupam o mainstream (se é possível chamar assim) estão em recesso, ou apenas requentando trabalhos antigos,e algumas outras, pouco têm acrescentado, em termos de inovação, ao cenário local. A Modus Operandi, banda na estrada há mais de uma década, acaba de lançar dois cds, que, devido ao conceito, podem ser considerado partes de um mesmo trabalho. E a inovação já começa desde a apresentação das bolachinhas: "Comunicáveis" vem embalado num envelope de carta, com título impresso em Braile. Já o cd chamado Incomunicáveis, vem acondicionado numa chapa de alumínio, com o inintelígível título "Yncxmvnyckvwys".
À grosso modo, podemos dizer que a Modus Operandi é uma banda de rock industrial, porém, esse rótulo, faz jus apenas à essência da sonoridade do grupo. Nesse novo trabalho, a banda amplia o leque de referências, que vão desde as mais óbvias - como a banda alemã Einsturzende Neubaten - às mais surpreendentes, como a literatura filosófica do autor libanês Gibran Khalil Gibran. Mas, na caldeira industrial onde é processado o som da Modus, ouvimos ecos de punk rock clássico, como nas faixas "28" (com exatos 28 segundos), e na pulsante "Casulo". Também há espaço para músicas com nuances mais soturnas, como a climática "Procissão", e a sorumbática "Jazigo Perpétuo".
Assim como no trabalho anterior, "h... estereo...", a Modus continua flertando fortemente com a psicodelia, que fica bem evidente na super-elaborada "InstruMENTAL". Isso tudo, sem abandonar o experimentalismo - marca indelével da banda - que aqui, chega ao ápice na deliciosamente intragável "Duelo de Ratos", que tem a letra declamada, à guisa de um trovador desesperado.
Quando uma banda veterana, como a Modus Operandi, é responsável por causar uma sensação de novidade, de inventividade no rock, mesmo que em âmbito local, podemos afirmar que estamos diante de algo sintómatico. De uma lado, revela uma certa apatia na cena, e, de outro, deixa claro que, o alheamento da mídia e dos produtores, pode até atrapalhar, mas não impede que um trabalho de qualidade prevaleça.
E, parafraseando Nando Reis - que disse que tinha pena de quem não conhecia o Cascadura - eu digo: tenho pena de Nando Reis, e de quem não conhece a Modus Operandi!
Resenha por: Subcomandante Marcus
hdramone@hotmail.com