Quem conhece a cena de Metal brasileira já conhece bem um dos nomes mais fortes das bandas extremas, o quinteto HEADHUNTER D.C., que já passou dos 25 anos de existência, sempre detonando um som bruto, ríspido, calcado no Death Metal, mas muito bem estruturado nas harmonias e técnico na medida certa.
Aproveitando o lançamento de '...In Unholy Mourning...', fomos conversar um pouco com o vocalista da banda, o veterano Sérgio “Baloff” Borges, que nos recebeu de forma gentil e atenciosa.
Metal Samsara: Olá, Sérgio! É um enorme prazer falar com uma das lendas da cena brasileira, então, vamos logo à primeira pergunta: apesar do HEADHUNTER D.C. ser um veterano, vocês possuem poucos CDs lançados, apenas cinco discos próprios, o que daria uma média de um disco a cada 5 anos. Existe algum fator problemático para explicar isso? E outra coisa que salta os olhos é que, basicamente, vocês trocam bastante de selo. Isso seria um dos fatores?
Sérgio “Baloff” Borges: Salve Marcos! O prazer é todo nosso, e desde já obrigado pelo suporte. Deixemos o luto profano começar... Essa questão do desequilíbrio entre o tempo de estrada e a quantidade de álbuns lançados realmente aguça a curiosidade das pessoas, então sempre somos questionados sobre isso, mas independente de outros fatores a verdade é que nós sempre primamos muito mais pela qualidade do que pela quantidade, ou seja, não estamos aqui para fazermos música efêmera e sem alma oferecida em um álbum a cada ano como muito vemos por aí. É claro que os problemas com selos e com line-up também são fatores fundamentais para o longo hiato entre nossos lançamentos, e se não os enfrentássemos com tanta frequência provavelmente não demoraríamos tanto a oferecermos novos trabalhos, mas a criação e desenvolvimento de cada álbum do HEADHUNTER D.C. demanda um tempo especial, pois tudo trata-se muito mais do que simplesmente compor Metal extremo e brutal, entende? Nossa concepção de Metal da Morte está muito além do que apenas blast beats, riffs caóticos, grunhidos guturais e ideias sobre tripas e blasfêmia pueril e barata tão comuns de vermos atualmente. Palavras como “essência”, “sentimento”, “paixão” e “culto” não fazem parte da letra de 'Hail the Metal of Death!' por acaso... Quanto à questão da frequente troca de selos, bem, é notório que não trata-se de uma fenômeno recorrente apenas de nossa parte, já que não existe mais aquela tradição de uma banda lançar 2, 3, 4 álbuns pelo mesmo selo como acontecia no passado, mas os tempos são outros, o interesse e compromisso dos selos com as bandas também, assim como o mercado fonográfico que está prestes a entrar em extinção, a visão dos donos de selos e a própria cena também são outros se comparado há 20, 25 anos, tudo influenciando para que a permanência de uma banda em apenas um selo seja cada vez menor.
Metal Samsara: Ainda falando em selos, por que houve esta parceria entre a Mutilation Records e a Eternal Hatred Records para o lançamento de '...In Unholy Mourning...'?
Sérgio: A parceria entre ambos os selos se deu em prol de um objetivo em comum, que é o de promover o nosso novo álbum de forma efetiva e abrangente no território brasileiro, cada um fazendo o seu melhor para espalhar a palavra do Culto. A Mutilation tem um ótimo esquema de distribuição a nível de Brasil e América do Sul, e por já estar na ativa desde o final dos 90’s acabou criando uma estrutura muito boa ao longo dos anos – sem falar que já trabalhamos com eles no passado e ficamos muito satisfeitos com todo o trabalho desenvolvido. Já a Eternal Hatred Records (cujo nome, título de uma de nossas músicas, é uma homenagem à banda) é um selo novo dedicado ao Metal Extremo que conta com a Assessoria de Imprensa da MS Metalpress, nos dando um ótimo suporte espalhando as notícias de nosso bunker pela cena através da Internet, além de também possuírem o seu próprio esquema promocional. A união desses selos tem nos ajudado bastante para fazer '...IUM...' atingir, de uma forma ou de outra, o maior número de diehard deathmetalheads realmente comprometidos com a música da morte ao redor do Brasil. O próximo passo é o lançamento oficial do álbum em outros países e continentes.
Metal Samsara: Ainda falando nos aspectos técnicos do CD, vemos que você tomou a responsabilidade de produzir o disco, então, como foi lidar com este trabalho pela primeira vez no tocante ao trabalho do HEADHUNTER D.C.? Gostou da experiência e pretende se especializar ainda mais no ramo?
Sérgio: Criar e produzir '...In Unholy Mourning...' em sua íntegra foi um desafio que precisava ser encarado diante das atuais circunstâncias, então eu não tive muita escolha, mas como sempre acontece, fiz tudo com a força, o prazer e a paixão necessários para dar vida em forma de morte (de Metal da Morte!) a um trabalho como esse, pelo qual possuo um enorme orgulho assim como todos os outros anteriores. Apesar de já ter ajudado na produção de trabalhos de outras bandas e do próprio HDC anteriormente, produzir um álbum nosso foi uma ótima experiência, a qual pretendo repetir sempre que possível e necessário.
Metal Samsara: Falando ainda um pouco do que está ao redor da banda, vocês são conhecidos pela identidade sonora forte que, mesmo com evoluções pontuais, continua com a mesma proposta da primeira Demo Tape de 1989, então, poderia nos dizer como vocês mantém esta personalidade sem se tornarem repetitivos, ao passo que muitas bandas, sob a alegação da evolução, jogam a personalidade fora?
Sérgio: Existem duas formas de se mostrar identidade própria e evolução ao mesmo tempo dentro do Metal, em minha opinião: fazer músicas e álbuns uns exatamente iguais aos outros ao longo dos anos e assim correr o risco de soar repetitivo e uma caricatura de si próprio (sendo pouquíssimos os casos de grandes bandas/compositores quem não correm esse risco) ou fazer músicas e álbuns naturalmente diferenciados entre si, mas mantendo a mesma essência musical e ideológica de sempre, e é na segunda forma que nos enquadramos. Essa é a verdadeira evolução para nós! Apesar de tratar-se de um gênero essencialmente limitado em seu universo no sentido ideológico e no que refere-se às suas raízes, existe um leque infinito de possibilidades dentro do Death Metal sem que se precise trair os princípios essenciais desse tipo de música, porém (infelizmente) não são muitos capazes disso de maneira convincente. A esses pouco capacitados de honrar a essência do Metal da Morte como este nasceu para ser, o meu mais profundo respeito!
Metal Samsara: Outro aspecto do HEADHUNTER D.C. são suas letras, e mesmo não usando de ‘Satan’ e ‘Demons’ repetitivamente, elas possuem uma forte característica anticristã. Poderia, por favor, explicar não só esta visão anticristã que ostentam, mas ao mesmo tempo explicar o motivo dessa posição? É óbvio que você não é uma pessoa superficial, isso todos sabemos...
Sérgio: Não raro existe uma grande falta de informação com relação a isso. Não passa de um pensamento cristão dizer que, uma vez contra Deus e a Cristo, obrigatoriamente deve-se ser a favor de “Satã” e uma infinidade de demônios. Tudo isso se trata de criações da Igreja, e como tais, definitivamente, não me interessa. É claro que alguns aspectos do Ocultismo, Satanismo (este enquanto liberdade e rebelião contra tudo o que é então chamado “sagrado”), enfim, o lado negro da vida sempre tiveram alguma influência sobre mim, sobre minha natureza enquanto metalhead e ser humano, mas não a ponto de fazerem parte de meus textos, os quais são um reflexo do que penso, do que sinto, do que sou. Eu sou um anticristão em minha essência, mas com raízes fincadas em filosofias ateístas, então só faço uso de tais criações da Igreja contra a própria e não para pseudo-adorações de “fantasmas psíquicos”.
Metal Samsara: Ainda falando em letras, vemos uma homenagem ao Death Metal em si na música ‘Hail the Metal of Death!’, que tem inclusive várias participações especiais. Como se deu a concepção dessa música, bem como a ideia das participações?
Sérgio: 'Hail the Metal of Death!!' (que a princípio se chamaria 'Metal da Morte') surgiu com a idéia de se fazer uma outra homenagem à música que faz a minha alma profana tremer, assim como fiz com 'Long Live the Death Cult' em 'God’s Spreading Cancer...'. Em termos líricos, eu usei em quase sua totalidade várias palavras separadas entre si que sintetizam o Death Metal na minha opinião pessoal, e quanto à música, pode-se notar riffs simples (quase primitivos) como eram feitos nos primeiros dias do Death Metal, e eu acho que ambos os aspectos funcionaram muito bem juntos. O 'Choir of the Damned' para o coro profano na música foi formado por 30 irmãos e irmãs escolhidos e convidados por nós, todos reunidos na sala principal do estúdio para berrar um poderoso "Salve!" em nome da música/ideologia deathmetálica, entre eles membros do MALEFACTOR, POISONOUS, ETERNAL SACRIFICE, THRASHMASSACRE, editores de zines e outros guerreiros de nossa cena local. O resultado foi incrível! Antes e depois disso, muita cerveja e confraternização metálica entre todos, o que acabou de alguma forma sacudindo um pouco a quase estática cena de Salvador.
Metal Samsara: Perdoe-nos por meter a mão em um vespeiro, pois alguns radicais mais extremistas podem entender esta pergunta por outro lado, logo, vamos ser bem claros: na letra de 'Cursed Be Thou' há vários trechos que remetem diretamente ao capítulo 3 do Livro de Jó, ou seja, são citações bíblicas. Logo, antes que isso caia na boca de extremistas que se dizem pró-Metal, se estamos certos, por favor, sinta-se à vontade para expor como surgiu esta ideia para a letra. Mesmo porque, como dito antes, você é uma mente pensante e tanto.
Sérgio: Para alguma coisa aquele lixo teria de servir de vez em quando, não é mesmo? HAHAHAHAHA (Risos de todos)!!! Muito legal você ter percebido isso, Marcos, mas não me importa nem um pouco o que “radicais mais extremistas” pensem ou deixem de pensar sobre o que pensamos, falamos ou tocamos, principalmente aqueles que falam merda por total falta de conhecimento, inteligência e capacidade de discernimento. A esses, uma boa dose de radicalismo e extremismo conscientes como deve ser é o bastante! Bom, não é a primeira vez que faço uso de alguns trechos em letras que remetem ao Livro de Jó do Antigo Testamento da bíblia. Fiz o mesmo para 'The Glory' e 'Black Miracle' do '...And the Sky Turns to Black...” e 'God’s Spreading Cancer…', respectivamente. Não podemos negar que a bíblia é um ótimo livro de FICÇÃO, através do qual tentam-se convencer os fracos de mente da existência de um deus criador da “vida eterna paradisíaca” através da salvação em seu nome e de um “infinito tormento no fogo” para os que se recusam a acreditar em “Sua Palavra”, e textos como os contidos no Livro de Jó foram uma grande fonte de inspiração para o que eu queria em 'Cursed Be Thou', com sua grande carga dramática e mórbida. Não sou e nem pretendo ser um conhecedor da bíblia, e o máximo do que já cedi o meu precioso tempo foi para ler algumas passagens do Livro do Apocalipse e o já citado Livro de Jó, mas com finalidades unicamente artísticas, fora isso é um livro sem uso para mim. Mas enfim, não era de se estranhar tanta morbidez e drama vindo de uma instituição que adora a imagem de um homem morto e cheio de feridas preso numa cruz, não é mesmo? HAHAHAHAHA!!!!!!!!!!!! Em tempo, 'Cursed Be Thou' é uma ode ao nosso pior inimigo, seja ele quem for. 'Maldito seja o dia em que nascestes'...
Metal Samsara: O '...In Unholy Mourning...' é, em matéria de músicas, um disco bem homogêneo, então, podemos assumir que este é o ponto alto da banda até hoje? E está satisfeito com o resultado final?
Sérgio: Eu acredito que cada novo álbum lançado é e deve ser sempre o melhor trabalho que já lançamos em todos os sentidos, o “ponto alto” como você mesmo disse aí. Estamos aqui para estarmos sempre nos superando, caso contrário qual seria o sentido de continuarmos? O que posso dizer é que '...In Unholy Mourning...' saiu quase como o esperado, você sabe, tocar e viver Death Metal é um eterno aprendizado, por isso vamos ter sempre algo a ser superado num próximo esforço – palavras de um velho e chato perfeccionista, hahaha! Mesmo se tratando de um lançamento ainda recente (cerca de 6 meses desde que saiu), o álbum foi muito bem recebido por aqueles que a ele tiveram acesso e os comentários têm sido também bastante positivos. É sempre muito bom ver que ainda há verdadeiros maníacos que têm o sentimento certo por True Death Metal e são capazes de absorver a sua real essência, compreendendo cada aspecto da maneira que o mesmo demanda – e não só achá-lo "brutal e extremo" como muitos, se entende o que quero dizer ... – e, mais uma vez, estamos muito contentes e orgulhosos com relação a esta que é outra grande conquista para nós, entre todas as dificuldades que se pode encontrar dentro do cenário brasileiro e sul-americano.
Metal Samsara: Outro ponto que salta os olhos é o segundo encarte, com as letras em português, um recurso bem pouco usado. Foi ideia da banda, pedido dos fãs ou algo que não citamos?
Sérgio: A principal razão para a inclusão das letras em português nesta primeira prensagem nacional foi evitar más interpretações, ou pior, traduções equivocadas sobre os textos, então tê-los traduzidos diretamente da fonte iria tornar as coisas mais fáceis para os ouvintes para uma melhor compreensão de todo o conceito lírico do álbum aqui no Brasil. Eu já havia tido essa mesma ideia para a edição brasileira do “GSC...”, mas somente agora foi possível pô-la em prática.
Metal Samsara: Bem, outro ponto chato (esta deve ser a mais chata das entrevistas que respondeu, certo? – risos...) é o problema do M.O.A, onde vocês deveriam ter aberto o evento, mas como várias bandas, vocês também tiveram aquela desagradável surpresa de falta de passagens até o dia anterior. Apesar de já ter existido comunicado oficial da parte de vocês, deixamos o espaço aberto para que a banda se pronuncie.
Sérgio: Eu acho que tudo o que eu podia falar a respeito para deixar o público informado sobre o que realmente aconteceu já foi explanado naquele comunicado. Na verdade, tocar nesse assunto me causa uma puta indignação e até um certo constrangimento pela grande vergonha que foi essa palhaçada chamada MOA, um fiasco de dimensões internacionais. O que rolou com a gente foi o mesmo que rolou com a grande maioria das bandas nacionais: nos foi prometido que seríamos “reconhecidos e valorizados por tudo aquilo que representamos para a cena brasileira”, e no final, nem nossas passagens nos foram enviadas. Esperamos até o último momento pelas passagens e pelo depósito do cachê prometido (que em respeito aos fãs e admiradores da banda que lá estavam para nos ver seria até dispensado por nós caso os outros pontos básicos fossem cumpridos), mas como todos já sabem, nada aconteceu. Sentimos muito por todos que lá estiveram e que foram desrespeitados em vários aspectos. Só nos resta agora virar essa página vergonhosa da história da cena Metal brasileira e esperar que cidadãos como esses não cruzem mais o nosso caminho.
Metal Samsara: Bem, como está a agenda de shows da banda, agora que o CD saiu? Já possuem planos para shows no eixo RJ-SP-MG? Pô, venham logo ao RJ! Estamos ansiosos aqui! (risos)
Sérgio: Apesar de não termos podido ter feito uma tour sequencial desse álbum como costumamos fazer devido à falta de disponibilidade de alguns membros da banda por causa do trabalho, temos feito uma quantidade de shows bastante razoável dentro da atual realidade da cena brasileira desde que o álbum saiu, e até o final do ano ainda temos uns 4 ou 5 shows fechados para fazer e alguns ainda a serem confirmados. Tocamos em São Paulo em abril dividindo o palco com OBITUARY e ACHERON, e voltaremos a tocar na cidade no próximo dia 20 de outubro no Profana Aliança Nacional, ao lado de ETERNAL SACRIFICE (BA), MYTHOLOGICAL COLD TOWERS (SP), EMINENT SHADOW (DF) e PATRIA (RS). Temos uma grande vontade de voltarmos a tocar no Rio, até porque já são quase 20 anos sem nos apresentarmos aí, mas recentemente fomos contatados para um possível show logo no início de 2013, o que nos leva a crer que a longa espera finalmente vai acabar. Assim esperamos que seja, e caso se confirme estejam certos que será algo de uma brutalidade tamanha capaz de provocar rachaduras enormes no cristo redentor, hahaha!!!!!! Aguardem!
Metal Samsara: Agradecemos demais pela atenção gentil, Sérgio, e deixamos o espaço aberto para que possa deixar sua mensagem final aos nossos leitores.
Sérgio: Sou eu que agradeço a você, Marcos Garcia, pela oportunidade de espalharmos o Culto aqui no Metal Samsara! Foi um prazer! Próximos planos são o relançamento do nosso Live Tape de 2002 em formato CD para o início de 2013 e um possível split 7” ou 10” com uma banda de fora. Mais infos em breve! Continuaremos honrando o Metal da Morte assim como já fazemos há 25 longos e ininterruptos anos até o fim de nossos dias! Grande e brutalizante abraço a todos e juntem-se a nós em luto profano por Deus! DEATH METAL RULES SUPREME!!! SALVE... METAL DA MORTE!!!!!!!!!!!!!! 666!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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